*Por Mirelle Hampel
Alguns (poucos anos) atrás ainda tínhamos como estrutura mandatória de suporte ao cliente o “SAC”. Associado as experiências traumáticas e tremendamente negativas, por muitos anos foi a morada dos clientes com problemas em suas compras ou serviços.
Vivemos hoje, um momento bem diferente, repletos porém, de grandes paradigmas, principalmente associados a velocidade e resultado. Queremos a maior quantidade no menor período de tempo, isso virou regra e sinônimo de sucesso de forma generalizada.
Quem não conhece a célebre frase repetida exaustivamente: erre rápido, barato e corrija mais rápido ainda. E isso é parte do processo. Os erros são eficientes do ponto de vista do aprendizado, você descobre exatamente o que não funciona, quando não funciona e com quem. O ponto é que percebemos este movimento muito forte em times de produtos e ainda incipientes em operações, principalmente em atendimento. Por quê?
Quando falamos de times de atendimento, na “era do consumidor” precisamos entender que dormimos com os negócios e empresários no centro dos produtos, e acordamos com o consumidor nos falando o que fazer.
Ninguém nos preparou para isso. Estamos vivendo um momento de mudança transgeracional e ter ciência de todas estas mudanças é o primeiro passo para acertarmos a rota. A liderança e os colaboradores de CX vieram do contexto inicial — de operações pesadas, altas cobranças e ambiente hostil e muitas permanecem assim até hoje.
Hoje, o consumidor ganhou voz e muito se fala de “customer experience,” cultura “customer centric”, “customer advocacy”, entre muitos outros.
Não há dúvidas do poder do cliente e o quanto as equipes de suporte ao consumidor já estão (e estarão cada vez mais) a galgar mais espaço e poder nas corporações, com muitos cases e empresas no Brasil que estão fazendo a diferença.
Mas existem muitos caminhos a serem descobertos e paradigmas a serem quebrados. Um deles é o da produtividade como métrica de sucesso e sinônimo de eficiência em times de suporte.
A liderança de times de suporte, precisa se reinventar, pensar diferente. Queremos falar de CX, CS e afins, não é? Então precisamos abraçar, testar e disseminar novas idéias acerca da condução destes times.
Hoje falamos de OKRs, de propósito e de resolver problemas, que certamente não serão o recorde de atendimentos de uma pessoa, mas quantos problemas ela resolveu.
Produtividade continua sendo uma métrica importante, mas não mais para “comparar” performances, e sim, para olhar a fluidez da experiência do colaborador. Baixa produtividade é resolver o menor número de problemas. Atender o menor número de chamados não é baixa produtividade. E resolver o maior número de problemas é algo muito mais complexo que atender o maior volume de tickets.
Precisamos de uma maior articulação da liderança, maior capacitação dos times, maior espaço para que exerçam a criatividade, para propor soluções, testar e medir e constantemente exercitar o ciclo de melhoria contínua. Quando colocamos a questão da produtividade nesta nova ótica, ganhamos uma nova roupagem para um conceito antigo, nos moldes atuais, onde o desafio não pertence ao outro, ele pertence a toda a organização.
Caso contrário, produtividade é apenas uma “métrica de vaidade” que em um primeiro momento parece relevante, mas que na prática, na hora de tomar decisões e medir o sucesso do seu negócio, não acrescenta em nada. São números meramente bonitos.
No livro Rápido e Devagar — Duas formas de pensar (Daniel Kahneman) tem uma frase que fala “Podemos estar cegos para o óbvio e cegos também para a nossa cegueira”. Ele explora como é difícil “abrir os olhos”, mesmo quando algo é apresentado a nós de maneira evidente, pois as coisas chegam filtradas pelas nossas crenças, pela primeira impressão que nós temos e que nós atribuímos a verdade dos fatos. Então, não desistam.
Construir um modelo de gestão mais efetivo, mais livre e mais feliz faz parte de todos nós. Como colaboradores, como líderes, mas principalmente como pessoas, co-construtoras do futuro que tanto almejamos.
*Mirelle Hampel é Head of Operations, Innovation e Customer Experience na Koin
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